1. |
Terror da terra
03:59
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A unha do louco desenha na pedra, revela
o que ninguém mais vê,
o que ninguém mais vê;
os lobos lá fora mastigam palavras
sagradas
de deuses que ninguém ouviu,
de deuses que ninguém ouviu falar.
Um rosto se forma naquela parede.
Agora ela fala e eu fico mudo.
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2. |
Baby blues
05:00
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Eu nasci,
você chorou.
Você perdeu todo o brilho.
Eu roubei seu sol,
você me deu a luz,
baby, baby, baby blues
Eu cresci,
eu me alimentei de você,
dentro e fora,
e sigo sugando sua vida.
Eu roubei seu sol,
você me deu a luz,
baby, baby, baby blues.
Eu saí,
você ficou.
Com o mesmo olhar perdido,
do mesmo jeito,
no mesmo lugar que eu deixei.
Eu roubei seu sol.
Você vai morrer de frio.
Baby, baby, baby blues.
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3. |
Geia
04:46
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Quando a consciência nasce
a terra gira,
gera
dentro de si mesmo
o próprio deus.
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4. |
A demência dos touros
04:02
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Eu quero que seja pra sempre não visto,
eu quero que seja pra sempre não vista
a forma partidária da beleza.
Que seja pra sempre não vista,
que seja pra sempre não visto
o tempo que se desperdiça com a beleza.
Eu quero que seja pra sempre não vista
a beleza em forma de tempo,
eu quero que seja pra sempre não vista,
eu quero que espere na curva a beleza,
eu quero que o tempo espere na curva,
eu quero que o tempo espere na esquina,
eu quero a esquina como curva,
eu quero todas as curvas da beleza como tempos.
Eu quero que o tempo arredonde a esquina,
eu quero que o tempo me espere na esquina e se ocupe
de arredondá-la.
Eu quero que seja pra sempre não visto.
Eu quero que o tempo arredonde a esquina por tempo o suficiente,
eu quero que por tempo o suficiente a beleza se curve.
Eu quero que tudo o que curva
seja pra sempre não visto.
Eu quero a beleza apodrecendo lentamente atrás da esquina,
eu quero que lentamente o tempo arredonde a esquina,
eu quero lentamente a esquina que se dilui –
eu lentamente quero que seja pra sempre não vista
a beleza em forma de esquina,
a esquina que perde a forma,
o tempo que deforma a esquina,
a beleza da deformação.
Eu quero lentamente
a beleza da deformação.
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5. |
Astronauta
03:38
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Já não sei mais pra onde eu vou,
se em cada passo eu vou partir.
Uma cratera vai se abrir
e em todo espaço eu vou cair.
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6. |
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Quanto sangue ainda temos nos olhos?
Quantos dias ainda hei de viver?
Eu não mereço e acho que você também não merece
ficar parado, esperando, calado, matando
o tempo que falta para amanhecer.
Talvez tudo não passe de uma pequena memória de outro alguém.
Não sei, acho que estou também um pouco cansado,
com os ossos fracos, gelados,
cariados, roídos
pelo tempo que ainda não voltou.
Não tenho cabeça para resistir.
Ainda pego no sono.
As plumas, as penas, o chumbo, a chuva e todo esse ouro
apenas um travesseiro feito de tanta asa quebrada.
Uma bandeira sangrenta flameja, treme no céu;
não adianta. O mundo inteiro vai descobrir
que somos de outros, que somos tão poucos,
que somos feitos páginas ao vento, páginas apagadas.
O suspiro do último ser que rastejar pela terra
eu vou engarrafar numa ampulheta;
vou ficar pra medir o tempo caindo nu, no deserto.
Ainda acredito em vampiros,
em pescoços sangrando, em pescoços sangrando,
em morcegos humanos,
na solidão frente ao espelho,
em vidas eternas, apagadas, estancadas,
aguardando uma estaca afiada enfiada no peito.
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7. |
Sin dios
03:55
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Sin luz,
sin sol,
vas a ver quién es dios;
sin voz,
sin razón,
vas a ver quién es dios.
Sin dios,
sin dios,
vas a ver quién es dios.
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8. |
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Sinto um cheiro de violência
que nos vigia e nos provoca
a febre cerebral
tomou conta de mim.
Dos meus medos,
dos meus desejos,
de toda minha imaginação.
Então eu vejo um espetáculo –
corpos, projéteis e sangue.
Perco a cabeça e me atiro com as mãos fechadas,
com os olhos bem abertos,
com os dentes apertados, os lábios latejando.
A carne sufocada não suporta mais.
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9. |
Abismo
03:49
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Eu não tenho limite.
Não paro
nem que haja um abismo
entre eu e você.
Eu não tenho limite, não paro.
Nem que haja um abismo
entre eu e o mundo.
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